segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"O Fascínio da Aviação"










"O Fascínio da Aviação"

Sou daqueles que tem a plena convicção de que o homem já nasce querendo voar. Não sei explicar muito bem o processo psicológico que dá início a essa incrível evolução na mente das pessoas, pois olhos, ouvidos e estímulos são captados desde muito cedo. A criança, ainda no colo, ao escutar o "avião passar" já fica inquieta e procura ver no céu, aquilo impressionante que a faz mexer com a cabeça, braços e pernas.

Uma vibração contagiante, uma palavra que se torna tão familiar e fácil de expressar, tal e qual "papai... mamãe... avião..,". Desse modo a criança aprende a falar tão naturalmente que as pessoas nem se dão conta dessa surpreendente intimidade inata. Daí em diante é apenas uma continuidade de sonhos, anseios, desejos e fantasias que se prolongam pelo resto da vida.

Tal sentimento é algo intuitivo e abstrato, pois está implícito na essência da alma do homem. O almejo de estar mais perto de Deus, afinal de contas Deus está nos céus e todos nós temos essa tendência intrinsecamente espiritual de estarmos ao lado daquele que criou todas as coisas e que transcende todo o conhecimento aplicável e explicável.

Assim... "pensamos em voar", como Ícaro um dia, ou Santos Dumont outro dia, e nós algum dia. Quem sabe ?..., assim possa quebrar-se a barreira físico-natural que nos impede de "subirmos". Só o pensamento é o suficiente, pois sonhamos, imaginamos e lá estamos nós nas alturas só com o "olha o avião".

O fascínio da aviação nos tira dessa realidade comum e nos transporta para uma realidade virtual sem o auxílio de nenhum computador. Não é preciso nada mais que o ruído do motor de um avião, uma simples foto de aeroporto ou mesmo uma história de aviação. Tudo pode estar meio triste e monótono num momento. Passa uma avião, tudo muda, todo mundo se agita e começa a olhar pro céu procurando aquilo que mexe com um dos mais profundos sentimentos do nosso ego.

Todos nós experimentamos uma atração inexplicável por aeroportos, existe uma alegria e uma prazer incontrolável, quase nervoso de ver uma avião pousar e decolar. Ainda mais se for à noite com as luzes do balizamento da pista ligadas. E depois, aqueles movimentos característicos das pessoas, dos funcionários das empresas aéreas, dos portões automáticos e das salas-de-espera. E lá nos pátios, as fenomenais "empurradas de aviões", os "taxiamentos", as "sanfonas" e a torre de controle com seus raios varrendo os ares. Enfim, até ver as pessoas subindo ou descendo as escadas de um avião é de fato fascinate, afinal "vão voar !... ou vieram do céu !..."

Agora, nos imaginamos num daqueles parque aeronáuticos, "Oshkosk-Estados Unidos", uma exposição repleta de maravilhosas máquinas voadoras, algumas gigantescas, meio agressivas, outras dóceis e simpáticas. Caminhamos por entre um trem-de-pouso e outro, passamos por debaixo de asas e imensas turbinas, admiramos o conjunto de aviônicos da cabine de um desses incríveis artefatos impressionantes. O coração pulsa forte, parece que quer até sair voando do nosso peito.

Logo o ranger inconfundível de um motor nos atrai completamente. Toda a nossa atenção se volta para aquela vibração possante e contínua, meio descompassada, como que querendo sincronizar-se às batidas do nosso coração, é algo marcante. Outra vez, como por milagre, tudo começa a renascer. A mente dispara em bombardeios imemoráveis de enigmas, sem alfa, sem ômega, insondável. E novamente, lá estamos nós, nas alturas como crianças de colo totalmente envolvidas pelos "mimos" do "Fascínio da Aviação".


José Barbosa Ribeiro Júnior - Piloto Comercial de Avião
Editato para a Revista FLAP — Oshkosh'95 (05/05/1995)

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