quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"Manteiga Aviação"



"Manteiga Aviação"
    Aquela merenda das 4 horas da tarde é realmente inesquecível, mas nem sei explicar muito bem o motivo agora. Só sei mesmo que perder aquela merenda da tarde era a pior coisa que poderia acontecer a uma criança... ao menos às crianças lá de casa daquele tempo... Eu, Keila, Jôse e Maitê... éramos ainda os 4 primeiros filhos... depois vieram o Ricardo e a Ledinha já em Manaus, mas aí a nossa merenda opcional era "Biscoito Água e Sal Papaguara" com "Guaraná Baré" na "Casa do Japiim", mas isso já é uma outra história que vou contar depois.


    Agora vamos continuar lembrando dos nossos tempos de criança lá em Parintins quando a mamãe preparava o nosso café com leite da manhã para irmos à escola e a merenda da tarde que era a coisa mais especial de todos os dias.
    Às vezes fico recordando aqueles momentos e vejo a mesa comprida de madeira com dois bancos nos lados (com encosto) e duas cadeiras nas pontas. Então vejo papai numa das cabeceiras tentando controlar o alvoroço de todos nós com sua voz firme e meiga, e na outra cabeceira mamãe com seu sorriso lindo e amigo (ela sempre será a mãe mais linda do mundo) passando manteiga nos nossos pães.
    Nossos olhos ficavam estatelados mirando o “pulo do gato” para pegar o primeiro pedaço de pão quentinho com manteiga, mas não era qualquer manteiga não. Nós não aceitávamos nenhuma manteiga que não fosse a “Manteiga Aviação”. Em último caso, mas somente em caso extremo, quando papai explicava com todo carinho que o navio *Augusto Montenegro, ou Lauro Sodré, ou ainda o Lobo D’Almada, ou Leopoldo Perez, ou o Presidente Vargas ainda estava “descarregando” no “trapiche” a tão preciosa carga.
    Aí sim, com os olhinhos lacrimejando nos sujeitávamos ao sabor da “Manteiga Real”. Não era tão ruim não, mas o gostinho da nossa "amada, idolatrada, salve-salve e coração-sei-lá-de-quê" não saia da cabeça a cada mordida naquele pãozinho quente daquela tarde fatídica sem a nossa inigualável “Manteiga Aviação”.
    Agora deu até água na boca... e muitas saudades do papai Zé, da mamãe Léa e dos meus queridos mano e maninhas Keila, Jôse, Maitê, Ledinha e Ric. Amo vocês.





(*) Deixa eu explicar esse negócio de navio (Isso é lá do fundo do baú ou do rio): Nos bons e velhos tempos da SNAPP e no inicio da ENASA, foram lançados os confortáveis e luxuosos navios da “Frota Branca” como eram chamados, misto de carga e passageiros, que faziam a rota de Belém “Baia de Marajó” e do Baixo Amazonas até Manaus. Todos eles construídos em Amsterdam na Holanda. Tinham capacidade para transportar 500 passageiros, na classe popular e na classe especial. Foram eles os melhores que já passaram pela Amazônia. Infelizmente, como tudo acaba, eles todos estão agora no fundo de alguma baia ou no leito de algum rio. Veja mais: http://ignacioneto.blogspot.com.br/…/navios-da-frota-branca…








Um comentário:

Mário Nogueirs disse...

Fala Zezinho.
Ouvi muitos dessas estórias pelo Seo José. Coisa boa é termos memórias de bons tempos da infância, mostra q foi saudável e alegre. Saudades de "jogar conversa fora" meu cunhado.

Minha mãe  Léa , Eleanor Moreira Ribeiro, nasceu em Manaus, filha única do português  José da Costa Moreira  e da síria  Maria de Lourdes Za...